Monday, 13 July 2015

Sim e não! Afirmativas e negativas

Gusuuyoo!!! Nageesaibiin yaa!!!
Kuneedaa, ichunaku nati, nuun kachee wuran, guburii natooibiin!
(Ultimamente tenho estado ocupado e desculpe por não postar nada!)
Parte também era porque faltava ideia do que escrever aqui. Mas estava olhando os posts antigos e vi que prometi que iria abordar o tema de "sim" e "não" num outro post futuro.
Pois bem! Hoje resolvi escrever sobre isso, conforme o prometido. kkkkk
Bem, nas línguas atuais mais conhecidas, existem duas palavras muito bem definidas para expressar afirmação e negação. Em português temos "sim" e "não". Em outras línguas,
  • Espanhol: sí - no
  • Francês: oui - non
  • Italiano: sì - no
  • Romeno: da - nu
  • Inglês: yes - no
  • Alemão: ja - nein
  • Holandês: ja - nee
  • Russo: da - nyet
  • Finlandês: kyllä - ei
  • Japonês: hai - iie
  • Filipino: oo - hindi

No entanto, há línguas que possuem maneiras diferentes de expressar afirmação e negação. E não precisamos ir muito longe. Se formos considerar como surgiu o nosso "sim" e "não", vemos que até mesmo o Latim não tinha uma palavra específica para "sim". Bem, "não" em Latim era "non" mesmo. O "sim" é derivado de "sic", que era a palavra latina para "assim, dessa maneira". A palavra portuguesa "assim" vem de "ad sic".
No entanto, havia diferentes expressões para expressar a ideia de afirmação em Latim. São elas:
Ita
Ita vero

Mas em Latin, as pessoas poderiam simplesmente concordar (ou discordar) usando o mesmo verbo da pergunta!
Est puella pulchra? (A menina é bonita?)
Est (ou non est)

Fazemos isso também em português:
A menina é bonita?
É! (ou não é!)

Em vez de usar "sim" e "não" especificamente.
Bem, o "sic" explica o "sim", "sí" e "sì" do português, espanhol e italiano respectivamente. Mas o que dizer do "oui" francês?
"Oui" também vem do Latim, mas é interessante observar que, no caso do francês, o termo vem de "hoc ille", que se transformou em "o ïl". A expressão toda significa - literalmente - "(assim) ele é" e expressa uma afirmação. Isso era mais comum no território que hoje corresponde ao norte da França. Ao sul, a expressão era simplesmente "hoc".
Por essa razão, as línguas da França podem ser divididas em dois grandes grupos: línguas d'oil (que dizem "sim" através da expressão latina "hoc ille") e línguas d'oc (que dizem "sim" através da expressão "hoc" somente). O francês como conhecemos é um exemplo de "língua d'oil". No sul da França, mais ou menos ali perto da fronteira com a Espanha, existe uma língua chamada Occitano (ou Provençal). "Sim", nessa língua, é "òc".
Mas o Francês também tem outra maneira de dizer "sim" e essa maneira se parece muito com as outras línguas irmãs dela. Existe a palavra "si" em francês que significa "sim". Só que ela é usada como interjeição para discordar de uma oração negativa! Olha só:
Tu ne m'as jamais aimé, n'est ce pas? (Você nunca me amou, não é?)
Si!!! (Não, [eu te amo sim!])
Se fosse responder com "oui", a pessoa estaria concordando com a negativa.
Interessante isso, não?
Por que falei sobre tudo isso? Simplesmente para ilustrar o fato de que dizer "sim" e "não" pode ser muito mais variado do que imaginamos.
Vamos abordar agora o uchinaaguchi especificamente. Em uchinaaguchi existem três níveis diferentes de linguagem. Cada uma expressa um nível de formalidade diferente. Esses níveis são:
(1) Iihii
(2) Oohoo
(3) Uufuu
Esqueçam, por hora, o segundo nível. Vamos focar a atenção no (1) e no (2).
Cada um deles traz expressões não somente para "sim" e "não", mas também para interjeições do tipo "sim?" (respondendo a alguém que chama o falante") e "então..." (quando o falante está prestes a fazer um convite ou sugerir algo). Vamos exemplificar!
Considerando o (3) Uufuu, temos:
-------------
1) ʔuu = sim (expressa afirmação ou concordância)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/030/SNM03013uu==-00…
Naa munu kadii? (Já comeu comida?)
ʔuu! (Sim)
-------------
2) fuu = sim? (respondendo ao chamamento de alguém ou interjeição que exerce função fática, manter o contato com quem se fala)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/312/SNM31241huu=-00…
Taruu! ʔEe, Taruu! (Taruu! Ô Taruu)
Fuu? Nuu yaibii ga yaa? (Sim? Pois não?)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/312/SNM31241huu=-01…
Taarii, ʔusagarandee, duu nu tamee ʔaibiran kutu, doodin ʔusagamisooree, fuu!
(Pai, se não comer, não vai ser bom para saúde! Por favor, coma, vai?)
-------------
3) wuuwuu = não (expressa negação)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/050/SNM05045uuuu-00…
Chuu ya, gakkoo nu ami? (Hoje tem aula?)
Wuuwuu, neeyabiran. (Não, não tem.)
-------------
4) wuufuu = então... (quando o falante está prestes a fazer um convite)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/050/SNM05035uuhu-00…
Wuufuu, ʔichabira! (Então, vamos!)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/050/SNM05035uuhu-01…
Então, para ʔuufuu, temos: 1) ʔuu; 2) fuu; 3) wuuwuu e 4) wuufuu

Todos eles são usados quando o falante se dirige a alguém mais velho ou numa posição superior à dele. Isso é linguagem formal.
O ʔiihii segue exatamente a mesma estrutura! Só que, ao contrário do ʔuufuu, o ʔiihii expressa uma linguagem extremamente informal. É usado quando o falante se dirige a alguém mais novo ou que está numa posição inferior à dele. Dessa forma,
-------------
1) ʔii = sim (expressa afirmação ou concordância)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/010/SNM01002ii==-00…
Taarii, naa ʔukimisochii? (Pai, já acordou?)
ʔii! (Sim, já.)
Taarii? Unjoo, maa yaibii ga? (Pai, onde o senhor está?)
Hii? (Hein?)
ʔiyaa ya, yana warabaa yassaa!!! ʔiyaa ya nuu nu chimuee ya ga, hii???
(Mas é um moleque levado mesmo!!! O que você pensa que tá fazendo, hein?!?!?!)
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3) yiiyii = não (expressa negação)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/020/SNM02067iiii-00…
ʔayaa, unjoo maagana nkai menshee ga? (Mãe, a senhora vai a algum lugar?)
Yiiyii, chuu ya ʔikan! (Não, hoje não vou!)
-------------
4) Yiihii = então... (quando o falante está prestes a fazer um convite)
Áudio: http://ryukyu-lang.lib.u-ryukyu.ac.jp/…/020/SNM02049iihi-00…

Então, vocês podem praticamente usar somente o (1) ʔiihii e o (3) ʔuufuu. O (1) quando vocês estiverem falando com alguém hierarquicamente inferior a vocês e o (3) quando a situação requerer formalidade e polidez com quem vocês estiverem falando.
E o que falar do (2) ʔoohoo???
O (2) já não é mais utilizado nos dias de hoje por um motivo muito simples. Hoje em dia, já não existe mais a organização de classes sociais que havia em Ryukyu antigo. Antigamente, a sociedade era dividida entre "deemyoo" (nobres da mais alta elite), "samuree" ou "yukacchu" (aristocratas) e "hyakushoo" (plebe ou pessoas comuns).
Entre samuree e hyakushoo, é natural imaginar que o samuree utilize o (1) ʔiihii, enquanto o hyakushoo utilize o (3) ʔuufuu. No entanto, caso o samuree seja bem mais novo e o hyakushoo seja um idoso, não seria apropriado o uso de (1) ʔiihii por ser demasiado vulgar e rude, mas também não seria apropriado o uso de (3) ʔuufuu, por ser demasiado formal e polido.
Nessa situação, o (2) ʔoohoo servia de meio termo e, assim como os outros dois casos, tem a mesma estrutura.


Dessa forma, pode-se resumir na tabela abaixo:

Figura 1 - Tabela resumindo as várias maneiras de falar "sim" e "não" e como responder a chamamentos
de acordo com cada nível de formalidade
Aqui vai um exemplo de como "hii" pode ser usado. O senhor de óculos chega dizendo: 
ʔIra hii! (Tô entrando, hein?!)

No que o homem responde:

ʔAi! Mensheebitii, ʔu-danna??? (Ué! Chegou, senhor?!)

O senhor de óculos usa um linguajar bem vulgar! Nesse caso, mostra como ele enxerga o casal à esquerda da figura. O casal, por sua vez, mantém a postura de formalidade, expressa na fala do homem.

 Figura 2 - Exemplo de iihii

Exemplo de uso de "ʔuu" (sim formal).

Mulher: ʔUnjoo, jin sai turee shimeesabirani? Saburoo-gwaa, kaban mucchi kuu wa!
(Se o senhor pegar o dinheiro, já é suficiente, não? Saburoo, traga a maleta!)

Saburoo: ʔUu!
(Sim!)

Percebe-se aqui uma relação de hierarquia entre a mulher e o rapaz. A mulher usa um linguajar mais coloquial. O rapaz, por ser mais jovem, responde usando linguagem polida.

Figura 3 - Exemplo do uso do "sim" formal

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